segunda-feira, 27 de junho de 2022

Ensaios Filosóficos

 Por que razão haveremos de ser morais? 

Neste ensaio, iremos averiguar o problema filosófico sobre a moralidade, que consiste em saber o porquê de sermos morais. Isto é, se somos ou não morais, e se sim, o porquê de o sermos. 

O objetivo deste ensaio, é chegar a uma ou várias respostas possíveis para o problema em causa, de forma a clarificar o conceito de moralidade e apresentar as nossas perspetivas.

Abordar este problema é relevante para a Filosofia, porque por vezes não temos consciência do porquê de sermos morais ou mesmo se o somos. Assim, a partir deste ensaio, conseguimos provocar uma consciencialização da sociedade acerca deste assunto.

Várias respostas afirmam ser impossível a imoralidade, isto é, somos sempre morais. Outras dizem que o próprio meio social é que nos impõe a moralidade, e esta vai de encontro com a nossa tese. Por outro lado, existem teorias que afirmam que a moralidade é pura vontade de Deus.

Na nossa perspetiva, devemos ser morais pelo simples motivo de não vivermos sozinhos, vivermos com seres e coisas e por isso devermos ser corretos (justos/ honestos) nas interações com os mesmos, ou seja, existe uma correlação entre moralidade e a relação interpessoal.

Quando somos morais, somo-lo para alguma coisa, seja uma pessoa, um animal, um objeto e até mesmo nós próprios. Ou seja, existe uma condição para a moralidade, que é existir algo para a “receber”. Deste modo, sermos morais requer um destinatário.

Se a moralidade precisa de um destinatário, precisa necessariamente de uma interação direta ou indireta com o exterior, ora se vivêssemos no vazio não teríamos a necessidade de ser morais.

Uma vez que interagimos com o exterior, quanto mais o fizermos mais sentiremos e viveremos com diversos conceitos de moralidade.

Logo, agimos moralmente porque interagimos constantemente com seres humanos, animais, etc. 

Por exemplo, os nossos pais ensinam-nos a ser morais, a ser justos e honestos, e apresentamos uma série de normas que devemos seguir, mas porquê? Porque vamos interagir com o exterior, ou seja, os nossos pais preparam-nos para agir com as pessoas, animais, objetos, etc. Isto é, preparam-nos para a relação interpessoal/socialização que iremos eventualmente ter no futuro, ou seja, a moralidade exige um destinatário, no caso, a sociedade.

A moralidade avalia as ações que temos para com esta sociedade, pois se vivêssemos no vazio, não teríamos o porquê de ser morais, porque não teríamos ações que pudessem ser avaliadas moralmente. Não conseguiríamos pôr em causa o juízo de alguém às nossas ações porque não existiria nada nem ninguém para o fazer. Considera-se uma pessoa X moral, isto é, justa/honesta, se a mesma tiver previamente agido constantemente de forma moral.

A evolução da interação também mostra que nós somos morais porque interagimos com o exterior. Quando começamos a refletir sobre as nossas ações para com os outros, percebemos que devemos de agir de forma mais justa. Por exemplo, a tauromaquia tem vindo a ser criticada por não ser moral e colocar em risco os direitos do animal, ou seja, mais uma vez, somos morais porque temos em conta os interesses pessoais e alheios.

Visto que a conclusão é uma repetição do que é concluído nas premissas, quem as aceita terá de aceitar também a conclusão.

Os adversários da nossa tese, costumam contra-argumentar, por exemplo, afirmando que podemos ser morais sem interagir com o exterior, isto é, temos a moralidade intrínseca a nós, mas não a aplicamos. Contudo, dessa forma seria impossível avaliar a moralidade de certa pessoa, visto que são as sucessivas ações morais que nos obrigam a ter uma consideração moral dessa mesma pessoa.

Outra objeção seria o facto de por vezes os pais ensinarem os seus filhos a serem imorais, isto é, a serem desonestos e a serem injustos, como por exemplo a roubar. Todavia, como concluímos na evolução das interações, a moralidade vai se construindo para que no fundo toda a gente se possa relacionar de forma justa e correta.

No final desta reflexão, consideramos que a moralidade nasce das interações e das relações interpessoais e sociais dos seres humanos. Deste modo, a partir do choque de valores as pessoas vão aprendendo umas com as outras, assim a moralidade cresce com o objetivo de tornar a vida das pessoas mais justa e feliz.

Inês Reis // Jaime Singh, 11.ºF


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Será o silêncio [filosoficamente] absoluto?

O seguinte ensaio decorre de uma tentativa de responder à questão apresentada: 

Será o silêncio absoluto?

Primeiramente, para compreender este conceito explicarei o seu sentido. 

Por silêncio absoluto compreende-se uma total privação de som, isto é, não apenas sensação auditiva, mas sim som por completo, ou seja, a nulidade de qualquer que seja a frequência sonora. 

Visto que nós, enquanto seres humanos, apenas percepcionamos frequências compreendidas entre os 20 Hz E os 20000 Hz, existe som que não é captado pelo nosso mecanismo auditivo, defendendo assim com este ensaio a tese de que é impossível a ocorrência de silêncio absoluto.

Começando por falar sobre o problema enunciado, não considero muito relevante a sua discussão, vejo-o mais com uma curiosidade visto que muitas vezes, em variados locais e situações distintas nos é pedido silêncio, ou porque na igreja temos de permanecer silenciosos após a toma da hóstia, ou porque em contexto de sala de aula o professor nos pede silêncio, o que acaba por ser intrigante o facto de quando tal acontece, nunca ser possível obtê-lo efetivamente, mas sim uma redução do som emitido por tudo e todos razoável para que se concretize o desejado, como professor falar, por exemplo. Mas teremos efetivamente silêncio? Uma questão curiosa à qual irei responder com alguns argumentos. 

Ao termos por definição de silêncio absoluto a anulação de qualquer frequência sonora existente e audível ou não para o ser humano, se tudo no universo parar ou estagnar a sua atividade, os átomos que, com movimentos contraditórios chocam uns com os outros propagando o som, não teriam qualquer matéria sonora para o propagar, ocorrendo silêncio absoluto.

Como o universo se encontra sempre em movimento, então seria impossível que, em algum momento que seja, os átomos não propagassem qualquer matéria sonora por mínima que essa seja. 

Logo, é impossível a ocorrência de silêncio absoluto.

Podem alguns ser os indivíduos que se contraponham a este argumento referindo que sim, é possível haver silêncio pelo facto de muitos livros se basearem na existência do mesmo para descrever algumas realidades existentes num âmbito de relaxamento, por exemplo, ou  então, a deslocação para o campo por um período de tempo na tentativa de fuga de toda a sinistralidade da cidade, de toda a sua poluição, poder ser um momento de silêncio, embora não o sendo fisicamente, pode sê-lo mentalmente dando-se como eficiente para quem pratica esta ação. 

Para contrapor esta objeção refiro que concordo com a mesma no sentido de que mentalmente e filosoficamente é possível ocorrer silêncio mas, dado o facto de o problema enunciado se relacionar com algo absoluto é inevitável a relação de complementaridade entre filosofia e ciência/física para ser obtida uma resposta à questão.

Sendo fisicamente impossível a ocorrência de silêncio, este estado a nível mental torna-se relativo quanto à sua existência.

Visto que relativo e absoluto diferem no seu conceito é impossível, mais uma vez, absolutamente obter silêncio. 

Outra objeção que possa surgir, mais especificamente à conclusão do argumento, é o facto de um surdo não conseguir ouvir nada. Não existindo surdos à nascença, efetivamente até ao começo do seu estado de surdez o indivíduo presenciava ruído tendo passado a viver em silêncio absoluto.

Rapidamente respondo que os surdos, e algo provado cientificamente, não deixam de ouvir por completo os sons exteriores, apenas os ouvem mas com frequências bastante defasadas das normais e, sendo que ouvem sons bastante estridentes como a explosão de uma bomba. Estes podem ainda ter alucinações sonoras mentais visto que no passado escutavam qualquer som de frequência entre 20 hz e 20000 hz normalmente. 

Mesmo que um surdo experiencie o silêncio, este seria um estado relativo dado que se confere apenas a esse ou a todos os indivíduos que privem de uma audição saudável, não sendo portanto uma ocorrência absoluta.

Para consumar o ensaio, pretendo frisar o facto de defender apenas esta tese no sentido de que absolutamente é impossível ocorrer silêncio, embora este possa acontecer, mas em dadas circunstâncias. 

Como o significado de absoluto nos remete a uma totalidade, havendo um simples caso em que não ocorra silêncio, a conclusão do argumento por mim apresentado verifica-se, tornando assim impossível a existência de uma resposta afirmativa à questão “será o silêncio absoluto?”.


Pedro Ciríaco, 11ºH


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Será o silêncio filosoficamente absoluto? 

O silêncio, atualmente e numa era globalizada, ou é um luxo ou um tormento: ou se busca como um diamante raro ou se tenta afugentar dependendo do estado de espírito do momento ou do sentido que lhe atribuímos.

Se, por um lado, pode ser associado à serenidade, à concentração e à forma de introspeção, por outro, tem em si um vazio que assusta e no qual podemos ficar sós connosco próprios, gritando.

Em ambos, silêncio pode ser definido como a ausência de qualquer tipo de som. Mas, será esse silêncio filosoficamente absoluto?

Com este ensaio filosófico almejamos responder a esta complexa questão que, à primeira vista, pode aparentar ser pouco relevante dada a extrema necessidade e valorização do som incutidos pelo ser humano e à improbabilidade de o associarmos à filosofia, mas, numa segunda perceção, podemos ressaltar o seu lado científico, associando-o ao filosófico – tornando-o intrigante.

Este ensaio visa responder a este problema, dada as nossas considerações sobre o conceito de silêncio, tendo em conta a intemporalidade do assunto em questão e ao papel que a Filosofia teve no nosso pensamento e modo de ver as coisas.

Num mundo onde há realce e recorrência de sons, seja esta pássaros a cantar ou a comunicação entre seres, o som/ruído é visto como algo necessário e correlacionado com a nossa existência no planeta, pelo que, a nosso ver é impossível de se atingir o silêncio absoluto, normalmente entendido como a ausência de som, pelo que a nossa tese tem a seguinte estrutura:

(1) – Para que haja silêncio total é necessário que estejamos completamente isolados / ausentes / inertes de som.

(2) – Nós, seres humanos, estamos constantemente rodeados e intrinsecamente associados por/a sons.

(3) – Logo, é impossível a ausência absoluta de som.

A premissa (1) parece ser verdadeira, pois, pela definição corrente (senso comum) e científica, silêncio absoluto constitui a inexistência total de qualquer som, seja ele audível ou inaudível pelo ser humano, por exemplo ultrassons e infrassons.

A premissa (2) é também verosímil, já que, nós, seres humanos, ainda que nem sempre consigamos ouvir, somos “bombardeados” por sons inaudíveis (anteriormente mencionados).

São exemplos dessa constatação: o sermos atingidos pelos sons provocados por animais, como o morcego, no processo de ecolocalização; alguns processos na medicina, nas quais podem ser emitidos sons localizados para diversos fins, como as ecografias; os sons causados durante alguns fenómenos naturais, como o movimento tectónico de placas, sismos e erupções vulcânicas.

Contudo, o mais próximo de silêncio absoluto, teoricamente concebível, é conseguido em condições adequadas (por exemplos: em câmaras de isolamento de som – anecoica - como John Cage experienciou ao introduzir-se numa para estudar o fenómeno).

Como documentado, mesmo aqui o nosso organismo está incessantemente a produzir sons, quer seja o coração a bater ou o estômago a “roncar”, o ranger dos dentes e até mesmo a respirar, podendo escutá-los com clareza.

Todavia, poderiam ser suscitadas pertinentes objeções à tese apresentada:

(4) – No vácuo não existe som.

(5) – “Deus é silêncio”. (como disse o Cardeal D. Tolentino Mendonça nos “Encontros Fora da Caixa”, que decorreu a 24 de julho de 2019, em Mangualde).

A objeção (4), apesar de cientificamente verdadeira, não deverá ser aqui considerada visto que, primeiramente, é ínfima a quantidade de pessoas que têm a oportunidade de ir ao espaço ou a câmaras de vácuo e experienciar esse fenómeno.

Segundamente, uma abordagem mais científica é que o som requer matéria para se propagar. No espaço/vácuo não existe matéria pelo que não é coerente descartar a hipótese de que se existisse uma meio material que possibilitasse a propagação do mesmo, este não se propagaria.

Relativamente à objeção (5) e dada uma possível posição agnóstica, por nós, adotada, na qual existe uma incapacidade de determinar objetivamente a existência ou inexistência de um Deus, independentemente das suas características teístas, surge como improvável.

Um Deus teísta poderia ser sumamente bom, omnipresente, omnipotente, omnisciente e/ou metamorfo ou não, o contra-argumento revela-se, a nosso ver, inconsistente e falha ao explicitar a forma como Deus encarna o próprio silêncio, algo que na prática, ninguém alcançou.

Destes argumentos e contra-argumentos, podemos inferir a validez da nossa tese (que é válida) já que ambas as nossas premissas são verdadeiras e encontram-se em concordância, permitindo a dedução do valor de verdade da conclusão, sendo esta necessariamente verdadeira. É também, portanto, um argumento sólido.

Concluindo, este artigo pretende associar a Filosofia ao Absoluto, tendo em conta as nossas posições (anteriormente apresentadas), já que, ao analisar a possibilidade de existir silêncio absoluto num mundo repleto de sons e ruídos, estamos a abrir outras possibilidades quanto ao conceito de absoluto e perspetivas de análise.

Daí que a teoria de que o silêncio absoluto é cientificamente alcançável pelos humanos “cai por terra”, sendo concebível uma parcialidade na ausência de som, que à mercê de tudo e todos, faz o mundo e os seus integrantes viver.

Filosoficamente poderá ser considerado absoluto como proposição particular, dependendo de como é considerado. Poderá até ser um estado de alma onde o corpo acompanha.

Com este argumento, erguemos a Filosofia, a qual analisando este ou outros problemas do mundo contemporâneo, de forma mais ou menos lógica, ajuda a esclarecer algumas questões e respostas que se colocam de forma filosófica, pondo em causa o absoluto como solução.


Carolina Moreira // João Monteiro, 11ºA