sábado, 10 de fevereiro de 2024

Para que serve a nossa expectativa de que o futuro será como o presente?

 

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Ao longo do presente ensaio procuraremos discutir o seguinte problema “Para que serve a nossa expectativa de que o futuro será como o presente?”. Consideramos importante a discussão deste problema filosófico, na medida em que a sua discussão pode levantar diversas questões, tais como: será que ao focarmo-nos no futuro não desfrutamos do presente? ou então, ao expectarmos que o futuro será igual ao presente, acabamos por cair numa monotonia, uma vez que poderíamos sentir que o nosso futuro já estava decidido. Mas será que é esta, de facto, a verdadeira motivação da nossa vida? Que seria de nós se todos ficássemos parados, na esperança de que o futuro seria igual ao presente? Seríamos, então, como bonecos empacotados numa loja, que veem e ouvem, mas ficam parados a agir como se soubessem que no futuro continuariam a ser bonecos, sem nunca o serem realmente. Tome-se como definição de boneco empacotado um objeto inanimado, com a forma e aparência de um humano, mas que se encontra dentro de uma caixa e não se move, nem emite qualquer som. Considere-se “futuro” o momento da linha temporal que sucede ao presente, que é o momento dessa mesma linha temporal em que vivemos.

Vamos defender que não devemos acreditar na expectativa de que o futuro será como o presente, ou seja, devemos manter os nossos objetivos e pensamentos (ideias) independentes desta ideia. Portanto, defendemos a tese de que a nossa expectativa de que o futuro será como o presente não tem qualquer objetivo ou finalidade suficientemente significativa. Seja expectativa um acontecimento que temos quase como certeza que irá decorrer, não apenas um desejo/ambição, mas algo mais profundo, mais intenso, algo que tomamos quase como certo. Se acreditássemos que o futuro seria, de facto, igual ao presente, chegaríamos à conclusão de que não evoluiríamos (não mudaríamos para melhor). Porquê? Ora, é o medo (e tome-se por medo o receio, ou sentimento de ansiedade em relação ao futuro) que nos leva a pensar sobre o que acontecerá futuramente e a definir objetivos (metas, pensar no que gostaríamos que acontecesse). Se acreditarmos que o futuro será como o presente, então não teremos esta ansiedade, este medo/receio. Portanto, se acreditamos na expectativa de que o futuro será igual ao presente, não construiremos objetivos e nem definiremos metas. E qual seria o problema de isto acontecer? Que consequências traria para a nossa vida? Bom, é simples de entender que uma vida sem objetivos, é uma vida sem sentido, uma vida monótona em que se espera que cada dia seja como o anterior. Cair na expectativa de que o futuro será exatamente como o presente, é quase como aceitar, à partida, que temos um mecanismo (tal como uma máquina do tempo) que nos faz voltar atrás no tempo e revivê-lo todos os dias. Acreditar na expectativa de que o futuro será uma réplica (cópia exata) do presente é como aceitar que estamos a viver com esta máquina do tempo, ou seja, perder todos os objetivos que deveríamos definir. De certa forma, acreditar que o presente será replicado pelo futuro é, lá está, aceitar que somos bonecos numa caixa, que vivem o mesmo dia todos os dias, não falam, não pensam, não ouvem e não desfrutam (aproveitam) a sua vida.

As objeções mais fortes que poderiam ser formuladas face à tese defendida poderiam ser a de que se verifica, de facto, que ao longo do tempo, há determinados acontecimentos que acontecem repetidamente. Por exemplo, a Terra, enquanto planeta, teve fases de glaciação (em que estava congelada) e de aquecimento (em que a temperatura aumentava). E estes períodos foram-se alternando ao longo do tempo (geológico).

Contudo, esta objeção não seria bem sucedida porque, sempre existiram momentos em que aconteceram eventos que não estavam/eram expectados (previstos), tais como a queda de meteoritos que alteraria, por completo, a fase de degelo.

Por conseguinte, concluímos este nosso ensaio afirmando que não devemos acreditar em expectativas que afirmam que o futuro será igual ao presente, pois isso acabaria até por retirar a nossa liberdade (liberdade é o que torna a nossa ação resultado do nosso entendimento/decidida por nós próprios), na medida em que, já saberíamos que os acontecimentos se iriam repetir e que nada poderíamos fazer para os mudar. Teríamos, por isso, de renunciar ao libertismo (hipótese/teoria que defende que somos livres, que os seres racionais – dotados de capacidade inteligente e razão – são livres e têm o poder de tomar as suas decisões). Para além disto, será que, de facto, é sempre possível fazer suposições/ter expectativas sobre o futuro, uma vez que é muito difícil definir futuro? Ou seja, temos a certeza de que estamos no presente apenas no momento em que o vivemos. Apenas temos a certeza de que existimos no momento exato em que pensamos (ou seja, no presente), tal como diria Descartes. No conhecimento contido no cogito (“Penso logo existo”), fica claro e evidente (expressamente afirmado) que, à luz de uma observação que recorre à base de toda a nossa existência (qualidade de tudo o que é real ou existe, e é também a base de todas as outras coisas), apenas existimos, enquanto estamos a pensar, no presente. Este será, portanto, o único momento da linha temporal que, de facto, sabemos que existe. Todos os restantes momentos: já vividos (passado) e o futuro (ainda por viver) são apenas reflexo de memórias ou proporcionados pela imaginação, não podemos ter a certeza de que estas memórias (lembranças que recordamos supostamente sobre acontecimentos já passados) são reais (ou foram, em parte, alteradas) ou ter a certeza de que os nossos sonhos (objetivos) acontecerão. Sendo assim, como poderemos projetar expectativas sobre o futuro se nem podemos afirmar com toda a certeza que irá haver futuro? Afinal, somos fantoches destinados a aceitar que nada podem fazer em relação ao que lhes acontece? Ou somos seres inteligentes, dotados de razão (capacidade pensante) e que decidem (escolham, trabalham) o seu próprio futuro?

Martim Dantas & Henrique Levy, 11ºB

(1) Fonte: https://www.pinterest.pt/pin/623185667179447753/ 

 

sábado, 17 de junho de 2023

Será a Eutanásia moralmente correta?

 

                                                             (1)


     
Ao longo deste ensaio, procurarei discutir o problema: será a eutanásia moralmente correta? A eutanásia é o ato de proporcionar a alguém uma morte indolor. Distingue-se dois tipos de eutanásia, a ativa, que é a administração de substâncias a um individuo que lhe causam a morte; e a passiva, a suspensão de tratamentos que mantinham a pessoa viva. Temos, também, a administração da eutanásia como sendo voluntária(com o consentimento do paciente), não voluntária (o paciente não recusou nem permitiu) e a involuntária (o individuo não deu consentimento). Considero que a discussão deste problema filosófico é importante, pois define o futuro da nossa sociedade, decidindo a morte e a vida de uma pessoa e a duração do seu sofrimento.

    Vou defender a ideia de que a eutanásia é moralmente correta. Eu partilho da ideia de Mill, que uma ação é moralmente correta se providenciar a máxima da felicidade (prazer e ausência de dor a um maior número de indivíduos). Quando a eutanásia é administrada, em qualquer ipo de situação, irá trazer a máxima da felicidade. Na administração voluntária e não voluntária, ambos o paciente e a família irão ficar felizes, visto que, a dor do doente acaba e a família ficará aliviada por não ter que ver o seu parente a sofrer. Na administração involuntária, o indivíduo poderá ficar infeliz mas um grupo maior de pessoas irá ficar feliz (por exemplo, a morte de um predador sexual), Ora, se uma ação traz a máxima da felicidade então é moralmente correta; a eutanásia traz a máxima da felicidade; logo a administração da eutanásia é moralmente correta.

    Uma possível objeção ao argumento apresentada é, por vezes, haver casos em que o doente se sente pressionado a prosseguir com a eutanásia (não a querendo) mas prossegue com o processo, pois sente-se um fardo para os familiares, esta sentir-se-á infeliz. Concluindo-se assim, que a administração da eutanásia não é moralmente correta pois causa a infelicidade a um individuo. Todavia, esta objeção não é bem-sucedida pela seguinte razão: apesar de o doente ficar infeliz, a sua família irá ficar feliz, pois não ter-se-á que preocupar com o familiar. Deste modo, haverá uma maximização da felicidade, pelo facto, de o doente ser só uma pessoa e a família um grupo delas.

    Por conseguinte, concluo este meu ensaio afirmando que a eutanásia é moralmente correta, devendo ser permitida em todos os países, visto que, no sentido Milliano, esta ação traz sempre a máxima da felicidade mesmo que forneça a infelicidade a uma minoria.

 Inês Fonseca, nº6

10ºB


(1) Fonte: https://ccmadvogados.com/eutanasia-quo-vadis/


terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Música e Filosofia

 A propósito do tema em epígrafe, apresentam-se, seguidamente, os trabalhos realizados pelos alunos do 10º E. 

Começamos com Happy, de Dixie D'Amelio










A propósito da música Guerra nuclear, de Marisa Liz...



O trabalho pode ser visualizado aqui


sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Música e Filosofia

 A propósito do tema em epígrafe, apresentam-se, seguidamente, os trabalhos realizados pelos alunos do 10º B. 

Começamos com Cake, de Melanie Martinez









Continuamos com Scars to your beautiful, de Alessia Cara.


O desenvolvimento do trabalho pode ser consultado aqui.


Com Michael Jackson e a música Earth Song.






quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Música e Filosofia


Apresentam-se alguns trabalhos desenvolvidos pelos alunos do 10ºD enquadrados na temática: "Música e Filosofia".

Começamos com Bohemian Rhapsody dos Queen.





Após a audição poderão ser realizadas as atividades propostas no escape room disponível em:  

https://view.genial.ly/63792dc5521a1b00128a9672/interactive-content-musical-escape-room


Continuamos com Time, dos Pink Floyd.




Para visualizar o trabalho clique aqui.  



The Turning Point, de Steve Cuts.










Where is the Love?  dos Black Eyed Peas







segunda-feira, 27 de junho de 2022

Ensaios Filosóficos

 Por que razão haveremos de ser morais? 

Neste ensaio, iremos averiguar o problema filosófico sobre a moralidade, que consiste em saber o porquê de sermos morais. Isto é, se somos ou não morais, e se sim, o porquê de o sermos. 

O objetivo deste ensaio, é chegar a uma ou várias respostas possíveis para o problema em causa, de forma a clarificar o conceito de moralidade e apresentar as nossas perspetivas.

Abordar este problema é relevante para a Filosofia, porque por vezes não temos consciência do porquê de sermos morais ou mesmo se o somos. Assim, a partir deste ensaio, conseguimos provocar uma consciencialização da sociedade acerca deste assunto.

Várias respostas afirmam ser impossível a imoralidade, isto é, somos sempre morais. Outras dizem que o próprio meio social é que nos impõe a moralidade, e esta vai de encontro com a nossa tese. Por outro lado, existem teorias que afirmam que a moralidade é pura vontade de Deus.

Na nossa perspetiva, devemos ser morais pelo simples motivo de não vivermos sozinhos, vivermos com seres e coisas e por isso devermos ser corretos (justos/ honestos) nas interações com os mesmos, ou seja, existe uma correlação entre moralidade e a relação interpessoal.

Quando somos morais, somo-lo para alguma coisa, seja uma pessoa, um animal, um objeto e até mesmo nós próprios. Ou seja, existe uma condição para a moralidade, que é existir algo para a “receber”. Deste modo, sermos morais requer um destinatário.

Se a moralidade precisa de um destinatário, precisa necessariamente de uma interação direta ou indireta com o exterior, ora se vivêssemos no vazio não teríamos a necessidade de ser morais.

Uma vez que interagimos com o exterior, quanto mais o fizermos mais sentiremos e viveremos com diversos conceitos de moralidade.

Logo, agimos moralmente porque interagimos constantemente com seres humanos, animais, etc. 

Por exemplo, os nossos pais ensinam-nos a ser morais, a ser justos e honestos, e apresentamos uma série de normas que devemos seguir, mas porquê? Porque vamos interagir com o exterior, ou seja, os nossos pais preparam-nos para agir com as pessoas, animais, objetos, etc. Isto é, preparam-nos para a relação interpessoal/socialização que iremos eventualmente ter no futuro, ou seja, a moralidade exige um destinatário, no caso, a sociedade.

A moralidade avalia as ações que temos para com esta sociedade, pois se vivêssemos no vazio, não teríamos o porquê de ser morais, porque não teríamos ações que pudessem ser avaliadas moralmente. Não conseguiríamos pôr em causa o juízo de alguém às nossas ações porque não existiria nada nem ninguém para o fazer. Considera-se uma pessoa X moral, isto é, justa/honesta, se a mesma tiver previamente agido constantemente de forma moral.

A evolução da interação também mostra que nós somos morais porque interagimos com o exterior. Quando começamos a refletir sobre as nossas ações para com os outros, percebemos que devemos de agir de forma mais justa. Por exemplo, a tauromaquia tem vindo a ser criticada por não ser moral e colocar em risco os direitos do animal, ou seja, mais uma vez, somos morais porque temos em conta os interesses pessoais e alheios.

Visto que a conclusão é uma repetição do que é concluído nas premissas, quem as aceita terá de aceitar também a conclusão.

Os adversários da nossa tese, costumam contra-argumentar, por exemplo, afirmando que podemos ser morais sem interagir com o exterior, isto é, temos a moralidade intrínseca a nós, mas não a aplicamos. Contudo, dessa forma seria impossível avaliar a moralidade de certa pessoa, visto que são as sucessivas ações morais que nos obrigam a ter uma consideração moral dessa mesma pessoa.

Outra objeção seria o facto de por vezes os pais ensinarem os seus filhos a serem imorais, isto é, a serem desonestos e a serem injustos, como por exemplo a roubar. Todavia, como concluímos na evolução das interações, a moralidade vai se construindo para que no fundo toda a gente se possa relacionar de forma justa e correta.

No final desta reflexão, consideramos que a moralidade nasce das interações e das relações interpessoais e sociais dos seres humanos. Deste modo, a partir do choque de valores as pessoas vão aprendendo umas com as outras, assim a moralidade cresce com o objetivo de tornar a vida das pessoas mais justa e feliz.

Inês Reis // Jaime Singh, 11.ºF


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Será o silêncio [filosoficamente] absoluto?

O seguinte ensaio decorre de uma tentativa de responder à questão apresentada: 

Será o silêncio absoluto?

Primeiramente, para compreender este conceito explicarei o seu sentido. 

Por silêncio absoluto compreende-se uma total privação de som, isto é, não apenas sensação auditiva, mas sim som por completo, ou seja, a nulidade de qualquer que seja a frequência sonora. 

Visto que nós, enquanto seres humanos, apenas percepcionamos frequências compreendidas entre os 20 Hz E os 20000 Hz, existe som que não é captado pelo nosso mecanismo auditivo, defendendo assim com este ensaio a tese de que é impossível a ocorrência de silêncio absoluto.

Começando por falar sobre o problema enunciado, não considero muito relevante a sua discussão, vejo-o mais com uma curiosidade visto que muitas vezes, em variados locais e situações distintas nos é pedido silêncio, ou porque na igreja temos de permanecer silenciosos após a toma da hóstia, ou porque em contexto de sala de aula o professor nos pede silêncio, o que acaba por ser intrigante o facto de quando tal acontece, nunca ser possível obtê-lo efetivamente, mas sim uma redução do som emitido por tudo e todos razoável para que se concretize o desejado, como professor falar, por exemplo. Mas teremos efetivamente silêncio? Uma questão curiosa à qual irei responder com alguns argumentos. 

Ao termos por definição de silêncio absoluto a anulação de qualquer frequência sonora existente e audível ou não para o ser humano, se tudo no universo parar ou estagnar a sua atividade, os átomos que, com movimentos contraditórios chocam uns com os outros propagando o som, não teriam qualquer matéria sonora para o propagar, ocorrendo silêncio absoluto.

Como o universo se encontra sempre em movimento, então seria impossível que, em algum momento que seja, os átomos não propagassem qualquer matéria sonora por mínima que essa seja. 

Logo, é impossível a ocorrência de silêncio absoluto.

Podem alguns ser os indivíduos que se contraponham a este argumento referindo que sim, é possível haver silêncio pelo facto de muitos livros se basearem na existência do mesmo para descrever algumas realidades existentes num âmbito de relaxamento, por exemplo, ou  então, a deslocação para o campo por um período de tempo na tentativa de fuga de toda a sinistralidade da cidade, de toda a sua poluição, poder ser um momento de silêncio, embora não o sendo fisicamente, pode sê-lo mentalmente dando-se como eficiente para quem pratica esta ação. 

Para contrapor esta objeção refiro que concordo com a mesma no sentido de que mentalmente e filosoficamente é possível ocorrer silêncio mas, dado o facto de o problema enunciado se relacionar com algo absoluto é inevitável a relação de complementaridade entre filosofia e ciência/física para ser obtida uma resposta à questão.

Sendo fisicamente impossível a ocorrência de silêncio, este estado a nível mental torna-se relativo quanto à sua existência.

Visto que relativo e absoluto diferem no seu conceito é impossível, mais uma vez, absolutamente obter silêncio. 

Outra objeção que possa surgir, mais especificamente à conclusão do argumento, é o facto de um surdo não conseguir ouvir nada. Não existindo surdos à nascença, efetivamente até ao começo do seu estado de surdez o indivíduo presenciava ruído tendo passado a viver em silêncio absoluto.

Rapidamente respondo que os surdos, e algo provado cientificamente, não deixam de ouvir por completo os sons exteriores, apenas os ouvem mas com frequências bastante defasadas das normais e, sendo que ouvem sons bastante estridentes como a explosão de uma bomba. Estes podem ainda ter alucinações sonoras mentais visto que no passado escutavam qualquer som de frequência entre 20 hz e 20000 hz normalmente. 

Mesmo que um surdo experiencie o silêncio, este seria um estado relativo dado que se confere apenas a esse ou a todos os indivíduos que privem de uma audição saudável, não sendo portanto uma ocorrência absoluta.

Para consumar o ensaio, pretendo frisar o facto de defender apenas esta tese no sentido de que absolutamente é impossível ocorrer silêncio, embora este possa acontecer, mas em dadas circunstâncias. 

Como o significado de absoluto nos remete a uma totalidade, havendo um simples caso em que não ocorra silêncio, a conclusão do argumento por mim apresentado verifica-se, tornando assim impossível a existência de uma resposta afirmativa à questão “será o silêncio absoluto?”.


Pedro Ciríaco, 11ºH


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Será o silêncio filosoficamente absoluto? 

O silêncio, atualmente e numa era globalizada, ou é um luxo ou um tormento: ou se busca como um diamante raro ou se tenta afugentar dependendo do estado de espírito do momento ou do sentido que lhe atribuímos.

Se, por um lado, pode ser associado à serenidade, à concentração e à forma de introspeção, por outro, tem em si um vazio que assusta e no qual podemos ficar sós connosco próprios, gritando.

Em ambos, silêncio pode ser definido como a ausência de qualquer tipo de som. Mas, será esse silêncio filosoficamente absoluto?

Com este ensaio filosófico almejamos responder a esta complexa questão que, à primeira vista, pode aparentar ser pouco relevante dada a extrema necessidade e valorização do som incutidos pelo ser humano e à improbabilidade de o associarmos à filosofia, mas, numa segunda perceção, podemos ressaltar o seu lado científico, associando-o ao filosófico – tornando-o intrigante.

Este ensaio visa responder a este problema, dada as nossas considerações sobre o conceito de silêncio, tendo em conta a intemporalidade do assunto em questão e ao papel que a Filosofia teve no nosso pensamento e modo de ver as coisas.

Num mundo onde há realce e recorrência de sons, seja esta pássaros a cantar ou a comunicação entre seres, o som/ruído é visto como algo necessário e correlacionado com a nossa existência no planeta, pelo que, a nosso ver é impossível de se atingir o silêncio absoluto, normalmente entendido como a ausência de som, pelo que a nossa tese tem a seguinte estrutura:

(1) – Para que haja silêncio total é necessário que estejamos completamente isolados / ausentes / inertes de som.

(2) – Nós, seres humanos, estamos constantemente rodeados e intrinsecamente associados por/a sons.

(3) – Logo, é impossível a ausência absoluta de som.

A premissa (1) parece ser verdadeira, pois, pela definição corrente (senso comum) e científica, silêncio absoluto constitui a inexistência total de qualquer som, seja ele audível ou inaudível pelo ser humano, por exemplo ultrassons e infrassons.

A premissa (2) é também verosímil, já que, nós, seres humanos, ainda que nem sempre consigamos ouvir, somos “bombardeados” por sons inaudíveis (anteriormente mencionados).

São exemplos dessa constatação: o sermos atingidos pelos sons provocados por animais, como o morcego, no processo de ecolocalização; alguns processos na medicina, nas quais podem ser emitidos sons localizados para diversos fins, como as ecografias; os sons causados durante alguns fenómenos naturais, como o movimento tectónico de placas, sismos e erupções vulcânicas.

Contudo, o mais próximo de silêncio absoluto, teoricamente concebível, é conseguido em condições adequadas (por exemplos: em câmaras de isolamento de som – anecoica - como John Cage experienciou ao introduzir-se numa para estudar o fenómeno).

Como documentado, mesmo aqui o nosso organismo está incessantemente a produzir sons, quer seja o coração a bater ou o estômago a “roncar”, o ranger dos dentes e até mesmo a respirar, podendo escutá-los com clareza.

Todavia, poderiam ser suscitadas pertinentes objeções à tese apresentada:

(4) – No vácuo não existe som.

(5) – “Deus é silêncio”. (como disse o Cardeal D. Tolentino Mendonça nos “Encontros Fora da Caixa”, que decorreu a 24 de julho de 2019, em Mangualde).

A objeção (4), apesar de cientificamente verdadeira, não deverá ser aqui considerada visto que, primeiramente, é ínfima a quantidade de pessoas que têm a oportunidade de ir ao espaço ou a câmaras de vácuo e experienciar esse fenómeno.

Segundamente, uma abordagem mais científica é que o som requer matéria para se propagar. No espaço/vácuo não existe matéria pelo que não é coerente descartar a hipótese de que se existisse uma meio material que possibilitasse a propagação do mesmo, este não se propagaria.

Relativamente à objeção (5) e dada uma possível posição agnóstica, por nós, adotada, na qual existe uma incapacidade de determinar objetivamente a existência ou inexistência de um Deus, independentemente das suas características teístas, surge como improvável.

Um Deus teísta poderia ser sumamente bom, omnipresente, omnipotente, omnisciente e/ou metamorfo ou não, o contra-argumento revela-se, a nosso ver, inconsistente e falha ao explicitar a forma como Deus encarna o próprio silêncio, algo que na prática, ninguém alcançou.

Destes argumentos e contra-argumentos, podemos inferir a validez da nossa tese (que é válida) já que ambas as nossas premissas são verdadeiras e encontram-se em concordância, permitindo a dedução do valor de verdade da conclusão, sendo esta necessariamente verdadeira. É também, portanto, um argumento sólido.

Concluindo, este artigo pretende associar a Filosofia ao Absoluto, tendo em conta as nossas posições (anteriormente apresentadas), já que, ao analisar a possibilidade de existir silêncio absoluto num mundo repleto de sons e ruídos, estamos a abrir outras possibilidades quanto ao conceito de absoluto e perspetivas de análise.

Daí que a teoria de que o silêncio absoluto é cientificamente alcançável pelos humanos “cai por terra”, sendo concebível uma parcialidade na ausência de som, que à mercê de tudo e todos, faz o mundo e os seus integrantes viver.

Filosoficamente poderá ser considerado absoluto como proposição particular, dependendo de como é considerado. Poderá até ser um estado de alma onde o corpo acompanha.

Com este argumento, erguemos a Filosofia, a qual analisando este ou outros problemas do mundo contemporâneo, de forma mais ou menos lógica, ajuda a esclarecer algumas questões e respostas que se colocam de forma filosófica, pondo em causa o absoluto como solução.


Carolina Moreira // João Monteiro, 11ºA